terça-feira, 28 de abril de 2015

A tattoo do Seu Gazeta

A tattoo do Seu Gazeta


No final dos anos 50 um adolescente em São Paulo decidiu fazer uma tatuagem para “provar que era macho”. Para realizar seu intento procurou Orfeu, um ex-presidiário que aprendera a tatuar na cadeia. O método de Orfeu era bem artesanal e consistia em duas agulhas amarradas com uma linha molhadas em tinta nanquim que iam furando a pele e injetando a tinta — a linha era para garantir que as agulhas não entrassem mais do que deveriam na pele, o que nem sempre era possível evitar.
Ele queria tatuar um leão sobre uma montanha, mas o tatuador Orfeu só sabia desenhar Nossa Senhora Aparecida e fez a tatuagem sem comentar sobre a arte que estava fazendo. Detalhe: segundo o livro “Estação Carandiru”, do médico Dráuzio Varella, Nossa Senhora Aparecida é mesmo tatuagem de presidiário, e o local do corpo onde é tatuada indica o crime pelo qual o detento cumpre pena.
Seu Gazeta relembra que a sessão durou mais de três horas, doeu e sangrou muito fazer sua tattoo, e que era considerada “coisa de bandido”. Quando chegou em casa a mãe dele quis saber porque a camiseta estava suja de sangue, e quando viu a tatuagem bateu nele por cima dos machucados mesmo.
Por ser “coisa de bandido”, a tatuagem ficou a maior parte da vida escondida sob a roupa. “Ainda bem que a minha era escondida, porque todo mundo que tinha era marcado pela polícia, se eles vissem que tinha tatuagem era preso na hora, explicava depois na delegacia“, conta Seu Gazeta.
Significado das tatuagens.
a tatuagem de Nossa Senhora Aparecida nas costas do Seu Gazeta (foto: arquivo pessoal / José Carlos Gazeta)a tatuagem de Nossa Senhora Aparecida nas costas do Seu Gazeta (foto: arquivo pessoal / Zé Gazeta)
antes de fazer a tattoo Seu Gazeta quis saber se iria doer, e pediu ao tatuador Orfeu fazer um teste na perna (foto: arquivo pessoal / José Carlos Gazeta)antes de fazer a tattoo Seu Gazeta quis saber se iria doer, e pediu ao tatuador Orfeu fazer um teste na perna (foto: arquivo pessoal / Zé Gazeta)
a tattoo "ponto" de teste, no detalhe (foto: arquivo pessoal / José Carlos Gazeta)a tattoo “ponto” de teste, no detalhe (foto: arquivo pessoal / Zé Gazeta)
Seu Gazeta, numa foto antiga, bem depois da tatuagem (foto: arquivo pessoal / Zé Gazeta)Seu Gazeta, numa foto antiga, bem depois da tatuagem (foto: arquivo pessoal / Zé Gazeta)
Seu Gazeta, hoje com 72 anos, diz que já pensou várias vezes em remover a tatuagem. Chegou a consultar um cirurgião plástico, que o preveniu que a cicatriz ficaria pior que a própria tattoo. Para a remoção com laser o complicador é que cada parte do desenho ficou numa profundidade diferente na pele. Quem sabe o creme removedor daqui a alguns anos, né?
Óbvio que “ser macho” nada tem a ver com fazer uma tatuagem, mas que Seu Gazeta é resistente a dor, isso é. 😛

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